Aglomerado de peixes lutando para sobreviver no que restou da vazante do Rio Negro, em Corumbá, é retrato da luta de animais que enfrentam a seca extrema instalada há meses no Pantanal de Mato Grosso do Sul. Acuados na pequena poça, os peixes que resistiram à passagem do fogo ainda têm de disputar espaço com outras espécies, que se aproximam em busca de alimento e abrigo. A dois passos dali, carcaça de jacaré e de uma cobra que não conseguiram escapar das chamas.
A cena em meio a Estrada Parque revela sinais do desequilíbrio ambiental e se repete em diferentes pontos da região pantaneira. De acordo com moradores, áreas que eram alagadas agora acumulam fina poeira, que se levanta toda vez que um veículo passa. Com os incêndios que arrasaram quilômetros de vegetação, muitos corixos e vazantes foram destruídos e deram lugar a bancos de cinzas e amontoados de animais carbonizados.
“Os campos estão todos secos e não tem água em lugar nenhum”, comenta o trabalhador rural João Batista. Peão em uma fazenda de criação de gado, ele conta que os patrões tiveram de investir para que o rebanho não fosse entregue à mesma sorte dos animais silvestres.
“O gado está bebendo nas pilhetas porque as bombas puxam a água, isso é o que tem mantido a boiada porque até os corixos secaram. Uma lagoa aqui perto recuou mais de dois metros nesse último ano e agora está ainda mais seca”, afirma.
Para o trabalhador, que até ajudou equipe de brigadistas no combate aos incêndios no entorno, os dias para o homem pantaneiro têm sido angustiantes. “Se não chover logo vai continuar esse sofrimento e vamos continuar nessa tensão. Está muito seco, não tem água e a gente sabe que qualquer fagulha pode fazer o incêndio voltar”, finaliza.
A quatro quilômetros da fazenda onde João trabalha, toda uma baía desapareceu por causa do fogo. No local, aves se alimentam de restos de peixes, répteis e anfíbios que morreram.
“Toda uma baía desapareceu porque o fogo fez a água ferver. Os peixes, anfíbios e outros animais que estavam próximos morreram”, explica a coordenadora operacional do Gretap (Grupo de Resgate Técnico Animal Cerrado Pantanal de Mato Grosso do Sul), Paula Helena Santarita.
Desde que o combate dos primeiros focos de incêndio no Pantanal começou, o Gretap percorre as áreas atingidas para resgatar animais feridos e contabilizar e avaliar o impacto do fogo na fauna. “Além dos animais vitimados pelo fogo, existem aqueles lesionados e os que estão debilitados em razão do fogo ou da inalação da fumaça e da cinza ao longo de todo o trajeto”, explica.
Animais resgatados são encaminhados para atendimento em Corumbá e os casos mais graves são avaliados e enviados para tratamento no CRAS (Centro de Reabilitação de Animais Silvestres), em Campo Grande.
Paula ainda observou que animais domésticos e animais silvestres têm sido vistos juntos pelo único propósito de sobreviver aos incêndios. “É um instinto de sobrevivência”, ressalta.
Porém, esse contato – do ponto de vista biológico – é ruim, pois pode propagar doenças para ambos os lados: animais de produção e silvestres.
Além disso, a coordenadora avalia que as queimadas realmente se anteciparam em 2024. Como comparação, citou 2020, que em junho ainda não tinha a situação que Mato Grosso do Sul tem vivido.
Três dias após o Governo do Estado decretar situação de emergência nos municípios atingidos por incêndios florestais, o Governo Federal, através do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional, publicou portaria em que reconhece a situação de emergência em 12 cidades de Mato Grosso do Sul. A publicação é feita diante dos incêndios que devastam, principalmente, a região do Pantanal.
Conforme a Portaria 2.251 publicada no DOU (Diário Oficial da União) da última quinta-feira (27), o secretário nacional de Proteção e Defesa Civil, Wolnei Wolff Barreiros, reconheceu o cenário de emergência vivido em MS, onde somente no Pantanal há mais de 2,3 mil focos de incêndio.
Mídiamax
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